O primeiro objetivo ao se tratar um casal com dificuldade para engravidar é tentar corrigir o(s) fator(es) identificado(s), se possível restaurando a fertilidade e permitindo que a gravidez ocorra de forma natural.
Quando não é possível corrigir a(s) causa(s) da dificuldade, recorre-se aos tratamentos de reprodução humana assistida. Estes tratamentos envolvem a utilização de medicações e procedimentos com o objetivo de aumentar a probabilidade de ocorrência da gravidez.
Os principais tratamentos de reprodução humana assistida são:
- Coito programado (“namoro programado”);
- Inseminação intrauterina (“inseminação artificial”);
- Fertilização in vitro (FIV, “bebê de proveta”).
Estimulação Ovariana
Uma etapa comum aos três tipos de tratamento é a estimulação ovariana com medicações que permitem o controle do amadurecimento dos óvulos e o aumento do número de óvulos maduros (disponíveis para fecundação) naquele ciclo menstrual.
Existem diversas medicações capazes de estimular o amadurecimento dos óvulos, algumas se apresentam como comprimidos de uso oral, mas a maioria é aplicada na forma de injeções subcutâneas (semelhante à insulina aplicada por diabéticos). A duração do tratamento com estas medicações varia de 5 – 12 dias, dependendo do tipo de medicação e, principalmente, do objetivo do tratamento e da velocidade de crescimento dos folículos. A reposta à estimulação ovariana, em termos do número de óvulos obtidos, varia caso a caso e depende de inúmeros fatores como idade da mulher, estado dos ovários (número de óvulos que ainda estão armazenados), tipo e dose da medicação, sensibilidade à medicação e objetivo do tratamento, dentre outros.
Apesar de ser uma etapa muito importante dos tratamentos para engravidar, a estimulação ovariana também tem seus riscos. Os mais importantes são a gestação múltipla (gêmeos, trigêmeos etc) e a hiperestimulação ovariana, isto é, a produção exagerada de hormônios pelos ovários devido ao amadurecimento de um número muito grande de óvulos, provocando efeitos colaterais que variam de desconforto abdominal leve até, em casos mais graves, acúmulo de líquido no abdome e no tórax. Felizmente, com os modernos protocolos de estimulação ovariana, a hiperestimulação, principalmente nas suas formas mais graves, é muito rara nos dias atuais (risco menor de 1% para as formas graves).
As gestações múltiplas causam aumento dos riscos para a mãe (diabetes gestacional e pré eclampsia, por exemplo) e para os bebês (parto prematuro, por exemplo). Atualmente, em torno de 20-30% das gestações geradas com algum tipo de tratamento são múltiplas (gêmeos, trigêmeos etc). Desta forma, há também mundialmente uma grande preocupação em reduzir estas taxas. As principais maneiras de se atingir este objetivo são utilizar doses menores de estimulantes ovarianos, principalmente em tratamentos como o coito programado e a inseminação intrauterina, e restringir o número de embriões transferidos ao útero no caso da FIV. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, estabeleceu na resolução que regulamente tratamentos de reprodução assistida (2013/2013) que para mulheres com menos de 35 anos o número máximo de embriões a ser transferido ao útero é de dois, entre 35 e 40 anos até três e, acima de 40 anos, até quatro. Com a melhoria dos processos de cultivo e seleção dos embriões, há uma tendência de transferir apenas um embrião de cada vez, principalmente em pessoas com altas chances de engravidar.
Devido a todas estas razões discutidas acima, a estimulação ovariana é um processo que deve ser feito sob supervisão médica, para um adequado controle do tratamento e segurança da paciente.