Infertilidade masculina

A infertilidade masculina é mais comum do que se imagina. Em 30 a 40% dos casais que estão com dificuldades para engravidar, identificamos um fator masculino como causa principal ou como uma das causas da dificuldade. Em geral, esses homens não sentem nenhum sintoma além da dificuldade para engravidar, e por esse motivo, acabam descobrindo a infertilidade somente quando fazemos uma investigação mais detalhada.

O diagnóstico da infertilidade masculina é confundido erroneamente por alguns homens como falta de virilidade  ou  de “masculinidade”, o que cria um  estigma em relação ao assunto e dificulta o pronto tratamento. É importante esclarecer que, na maioria dos casos, a infertilidade masculina não está associada à redução da potência sexual ou a menor virilidade.

O primeiro passo na investigação de uma possível contribuição masculina para um quadro de infertilidade é a anamnese, na qual colhemos informações sobre o paciente que possam apontar para uma possível infertilidade e suas causas. Por isso é importante que o homem venha à primeira consulta com sua esposa.

Na sequência, solicitamos o espermograma, um exame que consiste na avaliação da quantidade, forma e movimentação dos espermatozoides presentes no sêmen. Esse teste é simples, rápido e ao mesmo tempo  fundamental na avaliação de casais com dificuldade para engravidar, pois como dito acima, muitas vezes os homens com alterações em sua fertilidade não apresentam nenhum outro sintoma. Para fazer o exame, o paciente faz a coleta do seu sêmen em local privado da clínica ou em um laboratório, sendo recomendável a abstinência ejaculatória por um período de 2 a 5 dias anterior ao exame.

Os principais parâmetros avaliados no espermograma são a quantidade, a movimentação e a forma dos espermatozoides. Esses três fatores são fundamentais porque têm relação com a chance dos espermatozoides conseguirem chegar até o óvulo naturalmente e fertilizá-lo. Portanto, quando alterados, pode haver dificuldade ou, em casos mais extremos até mesmo impossibilidade, da gravidez acontecer naturalmente.

Uma coisa importante de ressaltar sobre o espermograma é que seus resultados podem oscilar por diversos fatores, por isso, quando há uma alteração espermática, recomenda-se  repetir o exame para confirmação do diagnóstico. Quando uma alteração seminal é confirmada, pode ser necessário fazer outros exames mais específicos para tentarmos estabelecer sua causa, como por exemplo, o ultrassom dos testículos, que é usado, principalmente, para detectar a presença de varicocele – uma doença relativamente comum relacionada à infertilidade masculina.

Para esta investigação complementar e auxílio no plano de tratamento do casal, recomenda-se que o especialista em reprodução humana trabalhe em conjunto com um urologista, pois assim, teremos os melhores resultados possíveis, pois cada paciente é único e necessita de um procedimento adequado às suas necessidades.

As principais causas de alteração seminal são:

• Varicocele (varizes na região escrotal)
• Infecção testicular (por exemplo: caxumba, clamídia, gonorreia, etc)
• Tratamento anterior oncológico feito por quimioterapia e/ou radioterapia na região pélvica. Eu falo detalhadamente sobre a fertilidade para pacientes com câncer neste artigo.
• Congênita: alguns homens nascem com problemas de produção  de espermatozoides
• Uso de anabolizantes, que podem provocar até  azoospermia, temporária ou definitiva;
• Uso excessivo de álcool e/ou tabaco ou uso de drogas;
• Exposição a certos produtos químicos que contêm metais pesados ou radiações;
• Tumor ou malformações congênitas que alteram a anatomia e obstrui os canais deferentes.

Sempre que possível, o objetivo do tratamento é corrigir a causa da alteração seminal e restaurar a fertilidade masculina. A depender do tipo de problema, pode ser necessário fazer alterações no estilo de vida, usar medicações ou mesmo cirurgias.

Contudo, em alguns casos a causa da alteração seminal não é clara e em outros, pode inclusive não ser reversível. Por isso, quando não é possível tratar ou não há uma normalização da fertilidade masculina após o tratamento, é possível lançar mão dos tratamentos de reprodução assistida, mais especificamente da inseminação intrauterina ou da fertilização in vitro (FIV).

A escolha do melhor tipo de tratamento depende da intensidade da alteração seminal e de fatores relacionados à parceira, como idade, estado da reserva ovariana e a presença ou não de uma causa feminina para infertilidade. Em geral, quando nos deparamos com um diagnóstico de alterações seminais mais graves, a recomendação costuma ser a FIV.

Mesmo nos casos de azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen), é possível obter espermatozoides usados para a FIV em alguns homens. Em casos mais extremos, a doação de espermatozoides pode ser a opção mais viável. O planejamento do melhor tipo de tratamento começa com uma investigação minuciosa, multidisciplinar, especializada e experiente. É desta forma que conseguimos alcançar os melhores resultados possíveis.

Até pouco tempo atrás acreditava-se que a idade não influenciava a fertilidade masculina. Apesar da maioria dos homens continuar a produzir espermatozoides até a sétima década de vida, estudos recentes têm mostrado redução da qualidade dos espermatozoides a partir dos 40-45 anos de idade. Mesmo assim, o avançar da idade não tem o mesmo grau de efeito sobre a fertilidade masculina do que tem sobre a fertilidade feminina, isto é, não há uma idade a partir do qual todos os homens deixam de ser férteis.

Por isso, ainda não há uma recomendação de preservação da fertilidade masculina por conta do passar da idade. Se você quiser saber em quais situações recomenda-se congelar espermatozoides para preservação da fertilidade masculina, leia aqui.

Se você está passando por dificuldades para ter filhos, lembre-se que, em aproximadamente 40% dos casos, há uma causa masculina para esta dificuldade. Por isso, a infertilidade masculina deve ser pesquisada a qualquer sinal de dificuldade para engravidar após 12 meses de tentativas.